Meu primeiro dia de bicicleta

Preciso escrever isso enquanto ainda estou sem ar nos pulmões. Comprei uma bicicleta, bacana, com marchas e rodas grandes. Tudo o que eu precisava para ter liberdade.

Tinha, tenho, a intenção de andar pelo meu bairro, pelas ruas vendo o meu pedaço com outros olhos, olhos mais calmos, de finais de semana.

Pois bem, acordei cedo neste sábado, confesso que bem animado. Vou dar uma volta pelo meu bairro, sim, liberdade. Ver as casas, ver as pessoas, ver o tempo passar devagar.

Peguei a bicicleta, abri o portão da garagem e sai para minha aventura.

No caminho havia uma subida, a subida chamada “Avenida bosque da Saúde”. Saúde só no nome, para chegar perto da Igreja de Santa Terezinha, que para quem conhece, fica bem no comecinho da avenida, deixei pelo caminho meus dois pulmões e um pedaço grande da minha dignidade.

Até o momento não havia percebido, como estou fora de forma. Eu acreditava que por treinar todos os dias uteis da semana em uma academia aqui perto, eu estaria mais do que em condições de encarar uma subidinha. Não, não estava.

Nos primeiros cinquenta metros percebi que algo estava errado, as pernas deram uma fraquejada, tudo bem acabei de acordar. Virei a esquina, o ar começou a faltar. Vamos lá Milton, você está acordando.  Duzentos metros e começo a ver a igrejinha.  A cabeça começa a ficar vazia de pensamentos, não conseguia ver as casas com aquele romantismo que eu sonhava, na verdade quase tive a certeza de ver Jesus. Era só uma pintura no muro da Igreja.

 

A Praça da Árvore

Eu tinha como objetivo ir até a Praça da Árvore, pegar a ciclovia e seguir, pelo menos, até o Shopping Santa Cruz, uma vitória para o meu primeiro dia de bicicleta solo.

Cheguei à Praça da Árvore, a maior parte do caminho, caminhando, desci da bicicleta e comecei a andar, os pulmões ficaram pelo caminho, a tal dignidade ficou bem mais atrás.

Detesto a física moderna, essa lei da gravidade é implacável. Preferia a física antiga, de quando tinha vinte anos, lá naquela época estas malditas leis não eram tão rígidas.

Botei os pés na entrada do metrô (Praça da árvore, não o da Santa Cruz), os médicos vão negar, os malditos sempre negam, mas naquele momento tive um ataque cardíaco e pelo menos dois AVCs, percebi que o shopping Santa Cruz ia ficar para outro dia.

Virei e peguei a descida da avenida, desci na banguela. Tudo bem pensei eu, agora é só soltar e se deixar levar.

Não. Comecei a andar rápido demais, os carros passavam perto demais, eu estava sem ar, tonto. Demais.

Parei, e desci andando, nesta hora a bicicleta mais me levava que eu a levava. Ela por ter só duas rodas não parava de pé sozinha, eu por não ter mais pernas, não parava de pé sozinho.  Encostados, um no outro, nos arrastamos pela descida.

 

A Missão

Prometi para a Lilian que na volta traria sonhos e pão de queijo para a prole, vulgo meus filhos.

Parei na padaria, olhei para a balconista, esbaforido disse:

– Quero duzentas gramas de sonhos.

É chavão eu sei, mas aconteceu, juro. Ela disse:

– O sonho acabou.

Tudo bem John Lennon, você venceu. Pego o que consigo, dois minis sonhos e um monte de pão de queijo.

Chego em casa, me olho no espelho, meu lado esquerdo está torto. O AVC, sabia, tinha certeza!

Quando o sangue volta para o meu cérebro, e consigo enxergar melhor.

– Não, é assim mesmo.

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