Cegueira

Abro e fecho minha mão em frente aos meus olhos abertos. A escuridão não impede minha memória de ver os dedos abrindo e fechando, abrindo e fechando.

– Sei que você está aberta, aberta com a palma voltada para mim. Te vejo fechando cheia de dedos, é a minha mão. Minha cabeça não tem olho, mas assim mesmo te vejo minha mão. Minha mão.

– O que é isso que escuto lá longe? É um passarinho? É, é um passarinho. Ele está atrás de mim. A cegueira não tapou meus olhos na nuca. Não, não tapou. O pássaro é azul porque eu o vejo. Eu lembro do azul, do verde.

Levanto para gritar, meus pés batem nos móveis da sala.

– Cegueira, sua vaca, não me tirou as cores. NUNCA VAI TIRAR.

A cegueira não manda no meu nariz. Ele me traz cheiros que me traz memorias, que me traz olhos. Maldita cegueira, isto não te pertence. A minha cabeça não te pertence.

Minha mulher é linda. Será sempre bonita. A maldita cegueira pensa que me tirou os olhos, só removeu a velhice de minha amada, nos meus olhos ela será sempre jovem.

– Não você não me venceu, vaca maldita. Subi em seu pescoço e roubei sua alma.

Chuto os móveis, a cômoda. Jogo tudo longe.

– Vaca, grite seu som silencioso, de ladra vadia. Rouba a luz, mas não rouba meus guardados. Tudo o que eu já vi está do lado de cá de minha cabeça, longe das tuas mãos sem luz. Vem vadia, vem!

Sento no chão, está sujo de minhas urinas.

– Este peito que tu bate já não te teme. Vai roubar o quê? Levou o que podia, agora meu mundo negro é minha tela de pintura. Coloco nela o que eu quiser e você nunca vai saber o que está lá. É só meu. Pulei no teu pescoço, por esta você não esperava. Mordi tua nuca e me encaixei em tuas costas. Tapei seus olhos, como tapou os meus. Espero que não tenha memórias, que não tenha lembranças de cores, afinal o que é você cegueira? Um vazio, um nada a viver a perda dos outros.

Minha mulher entra no quarto. Escuto sua respiração. Ela chora. Abraço seu corpo e me agarro na sua saia. Juntos deixamos a sala. O sol bate no meu rosto. De olho aberto, deixo ele queimar a minha cara. Não sinto calor, as lágrima não deixa.

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