Quando o mal tem um nome – Glau Kemp

Há algum tempo voltei a entrar na minha conta do Skoob, o trabalho me consome mais tempo que o que eu gostaria, e acaba que a parte boa da vida, por vezes, dá lugar às obrigações.

Pois bem, entrei no skoob, e logo fui apresentado a este livro, pela própria Glau. Prometi que leria e faria uma resenha.

Logo de cara gostei do cenário que ela escolheu, a cidade de Nossa senhora Aparecida. Em uma trama de terror o palco é uma das partes mais importantes. Que lugar melhor para o mal se manifestar que uma das casas de Deus?

O mal abusa, provoca, faz as pessoas irem além de seus limites, e ao passar, perceber que não há mais volta.

A história acontece nos anos 70, Marta é uma mãe de família tradicional, religiosa, que está grávida. Ela sonha em ter uma menina, afinal a casa está repleta de homens. Seu marido e dois filhos.

O sonho beira a obsessão, quase igual à do capitão Ahab de Mobi Dick. Marta quer, precisa desesperadamente que o filho do seu ventre seja uma menina.  Ela reza aos Santos, à Nossa Senhora Aparecida. Clama ao próprio Deus.

Sua fé é forte como a certeza de que será ouvida pelo divino. Ela descobre que a medicina da época já pode identificar o sexo da criança antes do nascimento, faz de tudo para conseguir uma consulta.

Chega a roubar dinheiro de seu tio, e forçar uma ida para São Paulo. Neste ponto da história percebe-se que ela fará qualquer coisa para garantir que nasça uma menina.

Após a consulta, a verdade se revela trágica. Outro menino.

Ela sai transtornada do consultório. Desacreditada dos caminhos da fé, se perde em pensamentos nas ruas de São Paulo.  Prato cheio para o mal.

Recebe uma proposta que pode levá-la ao seu objetivo. A magia negra se mostra como uma provável solução para o seu problema.

Relutante acaba aceitando participar de um ritual que irá mudar o sexo da criança.

Esta é a parte do livro que a maioria gosta, cheia de detalhes é muito bem escrita. E é lógico, o preço da escolha de Marta é alto.

A criança que nasce é uma menina, o que parecia ser um final feliz, vem como uma solução errada. Marta traiu a Deus e seus desígnios, o arrependimento não é mais uma saída.

Aos 15 anos de Clara (sua filha) ela tenta matar o que acredita ser a encarnação do demônio. Não dá certo e ela morre no processo.

Daqui para frente é spoiler.  O que eu posso adiantar é o ponto de vista que a Glau imprimiu em Clara, a filha de Marta, a cria do demônio.

A relação de Clara com o pai e o irmão é quase de uma submissão total. Há na trama uma crítica entre linhas, do machismo, da indiferença masculina do século passado, que ainda hoje aparece.

Este é um livro que precisava ser escrito pela ótica feminina, foi um tempero muito bom a trama. A personalidade de Clara não condiz com a de um anticristo com poderes sobrenaturais.

Apesar de Clara ser “protegida” pelo mal, ela sofre o diabo (sem trocadilhos). Sua vida não é fácil. Uma alusão clara à “Jornada do herói” de Joseph Campbell, onde o protagonista mergulha no abismo para reaparecer mudado, o que não significa melhor.

O que acontece com ela? Leia, só isto que tenho para dizer.

Resumo da ópera. O livro é um terror dos bons. Foi bem escrito e gostei do final, não foi comum nem previsível. Glau conseguiu trocar os protagonistas sem perder a mão. Na primeira parte temos Marta e, quando ela morre, a linha narrativa vai para Clara.

Parabéns menina!

Glau Kemp

Pedi para a Glau uma minibiografia e prontamente ela mandou, se você (ainda) não conhece a escritora, segue Glau por Glau:

Glau Kemp exorcista de animais de pelúcia desde 1986. Autora de Quando o mal tem um nome ebook disponível na Amazon.

Organizadora da antologia Creeptpastas: Lendas da internet da Editora Lendari. Editora da Revista Amazing e Colunista do site Boca Do inferno. Enfim, só uma pessoa que sonha com bibliotecas.

O livro “Quando o Mal tem um nome” está disponível pela amazon, é só clicar no link aí em baixo e boa leitura!

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