As Ondas – Virginia Woolf

“As Ondas” é sem dúvida um dos livros mais difíceis que já li. São seis personagens que falam: Bernard, Neville, Louis, Jinny, Rhoda e Susan. A história e deles a narrativa é deles. E um personagem que é perene, mas silencioso: Percival.

Todos, com exceção de Percival, possuem uma mente de escritor. Olham, analisam e subvertem a ótica da realidade ao seu gosto.

São amigos e de tempos em tempos, desde criança, se reúnem e em uma espécie de transe inconsciente descrevem-se e escrevem suas realidades, são diferentes entre si e ao mesmo tempo iguais em um sentimento, a inexprimilidade de existir. Os diálogos correm em forma de monólogos, eles não se misturam, ao contrário, se aprofundam em seu criador que assim reescreve sua percepção narrativa e o isola dos outros.

Cada um tem sua característica: Rhoda é a mais soturna, a que tem medo a que sofre com desafios e procura em suas amigas, Jinny e Susan um exemplo de como ser aceita pelo mundo. Sua visão sempre beira ao desespero, ela quer fugir, mas seus pés não são fortes.

Jinny é bela, fútil as vezes, é o oposto de Rhoda, encara o mundo. O mundo não só a aceita como a admira. Ela devora a vida, e experimenta de tudo como se fosse apenas mais um vestido a fazer à corte de sua beleza.

Susan não é tão bela quanto Jinny, é a razão. Ela se liga a natureza como uma parte integrante do vento, das sebes que rodeiam sua fazenda. Ela se protege nas terras, nas rezes, no seu cachorro, em tudo que transpira vida, esta é a sua força e também o seu refúgio.

Neville é um apaixonado, ama profundamente Percival e sofre terrivelmente com sua morte, extremamente inteligente vê o mundo com uma certa distância, ele transita por sentimentos como se estes fossem as ondas que o arrasta para a praia, impedindo que se afogue.

Louis, ele se sente excluído pela linguagem, seu sotaque australiano lhe parece a maior barreira para a aceitação. Não demonstra fraquezas, conquista o mundo que o rejeita, constrói riquezas e se isola, seu poder é sua proteção. Ele e Rhoda se tornam amantes.

Bernard, talvez o mais escritor de todos eles, olha para as pessoas e imagina histórias, de onde veem, quem são, o que farão quando saírem de sua vista? Ele lê o mundo e é o que mais interage com os outros. Também se sente intimidado com a capacidade criativa de seus amigos.

Todos eles parecem refletir aspectos da própria mente de Virginia Woolf, a impressão que tive é que ela usou estes personagens para de alguma forma traduzir o que se passava em sua própria cabeça. Ela materializou seus medos, vaidades, amores e os fundiu em cada personagem.

 

Ficção, realidade ou só uma viagem…

O livro As Ondas, fala da existência destes seis personagens e seus relacionamentos com o mundo e com eles próprios. Ao final sobra somente Bernard, todos ao que parece, ficaram pelo caminho. Ele narra o último capítulo, já cansado, velho e desiludido. Lembra de Percival, de todos seus amigos e vai em direção as Ondas, onde encontra a morte.

O livro foi publicado em 1931, o suicídio de Bernard acontece em março. Dez anos depois, a própria Virginia faz um percurso semelhante no mesmo mês.

Abaixo o último parágrafo do livro. Leiam e tirem suas conclusões. E se quiserem se aventurar nesta história difícil, baixem o livro, respirem fundo e literalmente: Pirem!!

 

“As barras tornam-se mais profundas por sobre as ondas. Um filtro de nevoeiro adensa-se por sobre os campos. O vermelho condensa-se nas rosas, até mesmo naquela bastante pálida, por cima da janela do quarto. Um pássaro chilreia. Os lavradores acendem as primeiras velas. Sim, trata-se do eterno renascer, de uma incessante ascensão e queda. Sinto que até mesmo para mim a onda se eleva. Incha, dobra-se. Tomo consciência de um novo desejo, de qualquer coisa que se ergue em mim como um cavalo orgulhoso, cujo montador esporeou antes de obrigar a parar. Que inimigo vemos avançar em direção a nós, tu, a quem agora monto enquanto desço este caminho? a morte. É ela o inimigo. É contra a morte que ergo a minha lança e avanço com o cabelo atirado para trás, tal como se este pertencesse a um jovem, ao Percival a galopar na Índia. Esporeio o cavalo. É contra ti que me lanço, resoluto e invencível, Morte!

As ondas quebram-se na praia.”

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